quarta-feira, 16 de junho de 2010

A CULTURA DO FOGO A PARTIR DO UNIVERSO CABO-VERDIANO


Deus criou a natureza e o homem a partir dela criou a segunda natureza – civilização humana [spedjo d’alma]
Não seria justo escrever um artigo sem começar pela definição desse conceito, embora cada área de conhecimento humano conceba a cultura de forma diferente.
Se para agricultura o conceito é sinónimo de cultivo da terra, para ciências sociais é produção do saber (folclore, mitologia, costume); na sociologia é definida como toda aprendizagem de um determinado povo, baseada na sua identidade a partir do relativismo cultural, lei que define a não superioridade de culturas. Para filosofia, “ mãe de todas as ciências”, é uma manifestação humana, onde a partir da criação da natureza – Obra de Deus, surge a segunda natureza – civilização humana, como criação do homem.
Atendendo que a definição política, educativa e cultural é de competência das forças políticas no poder, ilha do Fogo deve, para além dessa fraca presença de investimento, bem como ausência de uma política activa para reconhecimento da Cidade de S. Filipe como um Património Mundial, criar organizações não governamentais (ONG’s) capazes de movimentar uma onda dinâmica, crítica e bem fundamentada para o restauro, conservação e divulgação da cultura da ilha.
Deve-se deixar, aqui, bem expresso que ao falar da Cultura está-se de certo modo a incluir a arte, como sendo um elemento integral e cultura como abrangência geral da vida de um povo.
Por isso, ao trazer a Cultura do Fogo como centro da questão, escolhe o universo da ilha como uma panela, onde se cozinha tudo que traz respeito ao foguense.
Neste universo peculiar, terra de poderosos feudos, se construiu a cidade de S. Filipe com característica metropolitana, mansões clássicas nas grandes propriedades e vilas, costumes e tradições que espelham a profunda diversidade religiosa, onde o catolicismo e protestantismo dividiram os fieis, com tradições, costumes e práticas agrícolas que fecundaram nas almas dos foguenses de forma singular, formando raízes extremamente fortes no pilar da cultura cabo-verdiana.
A Tradição Oral do Fogo como preservação da história, lendas, usos e costumes através da fala, deve ser promovida, sem deixar de ser consumida pela importação de outras ilhas.
A tradição oral é obra de iletradas, hoje, altamente valorizada por cientistas que investigam e pesquisam estes valiosos trabalhos.
No Fogo se encontra várias tradições orais e com vários actores populares inéditos. Nesta área se pode encontrar “ o Rafodjo, Carguticã, Coladera”, etc. com seus interpretes que ainda vivos esperam pela recolha, sistematização e divulgação desse valioso produto cultural.
No ensino, os professores da ilha, devem aprofundar este conteúdo,programatizando-a e fazer dessa obra um relato de arte dos tempos (i)memoráveis da nossa história.
O processo de aprendizagem conduz tanto o professor como o aluno a estudar um conto, recriando-o nas mais diferentes formas artísticas, possibilitando ao professor a possibilidade de achar e ordenar suas próprias imagens internas, configurando sua forma e significações essências, como via dele contar sua própria história, aprendendo-a, ensinando. Só através de conhecimento e, como aprendeu – contando sua própria história - sua prática pedagógica será fecunda.
O folclore foguense é riquíssimo e precisa de mais atenção neste Cabo-verde de morte e renascimento cultural.
Se Folclore é sinónimo da cultura popular, então, Djarfogo precisa representar e identificar-se socialmente neste universo cabo-verdiano com mais autoridade e identidade regional.
Não é compreensível que estudemos Bibina Cabral e esquecer de Tintina, Ana Corcopio e/ou tantas outras cantadeiras.
Os Contos do Fogo estão praticamente a perder porque não são escritos, gravados e tratados.
Qualquer sociedade preserva seu conto como uma das partes culturais. Para tratar desse aspecto temos que entender que ele tem fase de procedimento.
Primeiro – o conto tem uma fase oral, cujo inicio está ligado à vida dos primatas; pois, as histórias eram narradas oralmente, ate antes da escrita.
Hoje, ilha do Fogo, quase, vive uma época “pré-histórica”. Seus contos estão a perder e nem tem pessoas interessadas a regista-los.
Segundo – o conto deve ser registado para que a sociedade poça acompanhar de geração a geração os legados culturais, únicos veios de seguimento da nossa história.
Djarfogo precisa arrumar a ilha e edificar com verticalidade o orgulho que alimenta nossa alma.
Não existe orgulho fincado na desorganização e incompetência cultural.
Juntos, na diversidade de pensamento e unidos na elevação da bandeira cultural da ilha natal, construiremos um Djarfogo mais próspero e culturalmente mais rico.
Napoleão Vieira Andrade

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