
Hoje, não temos a mesma filosofia político-partidária. Não temos o mesmo amor de outrora que era lutar na base do voluntarismo. Depois da independência o comportamento militante mudou e muito. Mudou o país, a gente e o partido. Sempre com esperança, viajamos neste mundo de transformação, fiel ao ideal de Amílcar Cabral
Na análise proposta por Frantz Fanon – psiquiatra, escritor, ensaísta antilhano de ascendência africana e um dos maiores pensadores de século XIX relacionado aos temas da descolonização e a psicopatia da colonização –, a pequena burguesia não é mais, nem menos de que um complexo de superioridade perante ao nativo e às massas, com efeito devastador no complexo de inferioridade criado através de cultura e educação imposta, para subserviência dos nativos e massas, perante ao colono. Amílcar Cabral entendeu bastante cedo que não havia homogeneidade sociopolítica nesta classe. Constatou que havia divergências, com posicionamentos pró-colonial, apolítico e revolucionário. Porque a revolução tem que depender dos intelectuais que entendem das causas e consequências de uma revolução, Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Luís Cabral, Abílio Duarte e Pedro Pires, situados dentro da facção da pequena burguesia revolucionária, consideraram o “suicídio de classe” como condição sine qua non para formação da “classe- nação” e/ou a união contra o regime colonial.
O suicídio de classe era para eles a rejeição dos cargos e regalias politicas que usufruíam em detrimento da luta e regresso às identidades nacionais.
Através de sacrifício, martírio e dor, conquistou-se a independência, instalou-se o governo, eleito pelos filhos patriotas que aderiram à luta de libertação, mérito incontestável, conforme reza a evolução bipolar do sistema que dividiu o mundo em Capitalismo e Socialismo.
Depois da independência, até aos anos de 1990, predominou-se a politica económica semi-socialista, onde o sistema sociopolítico era caracterizado pela apropriação dos meios de produção pela colectividade. Nesta altura surgiram a Cooperativa, a Empa, a Reforma Agrária e a partidarização do Estado como forma de combater as ideias que punham em risco o processo da independência.
Nos meados dos anos 80, o país sentia-se viável, esperançosa na transformação politica que sua diáspora, maioritariamente de países capitalistas, faziam para abertura politica e económica. Com a potente realidade que se impunha, vozes de emigrantes e países acolhedores, alertavam Cabo-Verde para uma politica diferente.
Em 1990, o país entrava em ebulição politica, com transformação para o multipartidarismo. A filosofia do estado mudou com a nova Constituição e deu-se um novo impulso na economia cabo-verdiana. O estado entrou-se na economia do mercado com a privatização das propriedades do estado, dando acesso à competitividade necessária.
O Movimento para Democracia, MpD, situava-se como um partido pró-burguesia, com empresários a volta deles, lobbys bem constituídos para enfrentarem campanhas eleitorais dispendiosas e outros desafios políticos.
PAICV entrou em crise. A ideologia e os pensamentos de trabalhos voluntários não eram viáveis numa sociedade pró-capitalista. O sistema de aliança internacional estava em crise e viu-se cair os princípios da classe- nação.
Com a perda do MpD, depois de dois mandatos e regresso do PAICV ao poder, novas estratégias tinham que ser elaboradas, para uma nova viragem socioeconómica. O governo do PAICV e o próprio partido teriam que pensar sobre politicas de lobbys e influências no posicionamento do partido numa sociedade competitiva.
A luta que se verifica entre os partidos políticos e seus posicionamentos, face aos lobbys de influencia empresarial fez ressuscitar as ideias politicas enterradas pelo partido de outrora.
Hoje, não temos a mesma filosofia político-partidária. Não temos o mesmo amor de outrora que era lutar na base do voluntarismo. Depois da independência o comportamento militante mudou e muito. Mudou o país, a gente e o partido. Sempre com esperança, viajamos neste mundo de transformação, fiel ao ideal de Amílcar Cabral.
Continua...
Napoleão Andrade - Pedagogo
Sem comentários:
Enviar um comentário